sexta-feira, 9 de maio de 2008

A Borboleta Invisível (Capítulo 11)

O verão chegou, depois surgiu o outono. No inverno, o garoto pegou uma gripe braba e teve que ficar de molho na cama, tomando caldo de galinha feito pela mãe e usando emplastro de angu no peito. Com isso, suas visitas à mata tiveram que ser adiadas. O menino ficou muito triste com isso, mas o avô lhe mostrou que ele poderia usar este tempo que estava de molho na cama para estudar mais sobre a natureza e, assim, mandou trazer da capital mais três livros grossos, desta vez dois azuis e um vermelho escuro.
O menino acordava bem cedo e ficava até a noitinha devorando o presente do nono. Ele estava ansioso para sarar logo e poder ir à floresta comprovar tudo o que aqueles livros diziam. Seu amor pela natureza crescia a cada dia mais e, quanto mais lia, mais tinha curiosidade para saber e saber. Sua fome era tanta, que o moleque só tinha um assunto nas conversas: era natureza pra cá, natureza pra lá, porque a natureza… Os pais, os empregados do sítio, até os amiguinhos da escola se cansaram de ouvir suas histórias e saberes. Apenas o avô, que tinha paciência de Jó, ouvia e o incentivava mais e mais. O velho ancião também era um apaixonado pela natureza. Sua maior paixão, contudo, eram as flores, principalmente as margaridas. O senhor de cabelos alvos sabia tudo a respeito de flores, e era um grande estudioso de margaridas.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

A Borboleta Invisível (Capítulo 10)

Livre da implicância materna, o menino agora se sentia alforriado para passar a maior parte do tempo na sua floresta particular. Várias vezes, o avô lhe acompanhou na empreitada, sentando com o garoto no meio da mata para contar coisas que sabia sobre aquele universo verde, lembrar de quando tinha a idade do menino e corria pela estrada afora, sempre em companhia de seu nono também. Quando o menino ouvia aquilo, ficava espantado! Para o moleque, o avô já tinha nascido com aquela idade, de cabelos brancos. Mas seu nono contava as histórias, e isso sempre acalentava o seu coração. A voz pausada e suave encantava não apenas o neto, mas também os bichos que povoavam aquela floresta. O guri notou que, enquanto o sábio ancião contava as histórias, os pássaros, formigas, joaninhas e bichinhos de diferentes portes se avizinhavam atentamente. Aquilo deu uma idéia ao garoto. Se uma legião vinha escutar seu avô, quem sabe ele não poderia fazer o mesmo com a Borboleta Invisível? Durante aquele tempo, o menino ficou tão entretido em ler os livros presenteados pelo avô, que esqueceu, temporariamente, de seu maior objetivo em estar na floresta: conquistar a confiança e a amizade da Borboleta Invisível. No dia seguinte, o guri levou um dos livros de capa verde e começou a ler com a voz pausada, semelhante à que o nono usava quando lia histórias para ele dormir. Sua voz parecia ecoar na clareira. No silêncio suave da mata, a voz do garoto se assemelhava ao vento que corta as folhas das árvores. Os animais começaram a se aproximar para escutá-lo. Os dias foram passando, e o menino fez da leitura em voz alta um hábito. Ele notava que os seres da floresta gostavam mais quando lia as aventuras dos piratas de terras distantes. As borboletas ora voavam ao seu redor, ora pousavam nas pedras ou nos troncos das árvores que circundavam o local onde o guri tradicionalmente sentava para ler suas histórias. Mas o moleque não ficava apenas ali lendo, lendo, lendo… Não! Com o passar do tempo, cada pedacinho daquela mata era conhecido por ele. Não havia um tiquinho de terra, um cantinho qualquer que o garoto não conhecesse, de que não tivesse ciência. O menino conhecia todos os bichinhos, e os novos que nasciam já se tornavam seus amigos. Mas a Borboleta Invisível, nada. Nadica de nada!

terça-feira, 6 de maio de 2008

A Borboleta Invisível (Capítulo 9)

E, assim, a cada amanhecer, o menino voltava à mata e aprendia um pouco mais daquele ambiente que pouco a pouco se ia revelando. Um novo mundo se abriu para ele. O guri começou a conhecer cada flor, cada folha, cada curva do rio que atravessava a densa floresta e agora não estava apaixonado apenas pelas borboletas, mas por todo aquele universo verde que tinha perto de casa. O interesse era tanto, mas tanto, que o avô, sempre ele, encomendou da capital – onde havia o mar que o menino queria conhecer com o tesouro que a Borboleta lhe traria – um livro grande, grosso, de capa dura e marrom, contendo os desenhos de várias borboletas. Parecia que todas as borboletas que existiam no mundo estavam ali retratadas. Menos uma, é claro. Como seu avô tinha lhe explicado desde o início, poucos, bem poucos conseguiam enxergar a Borboleta Invisível.
No final, de tanto lidar com o livro, o menino já sabia distinguir cada uma das borboletas que lhe apareciam pela frente, quando sentava no meio da floresta e admirava o ambiente. O avô, incentivando o interesse do neto, resolveu encomendar dois novos livros da capital: um sobre as árvores e outro sobre os pássaros. Os dois tinham capa dura também, só que eram verdes e um pouco mais pesados do que o primeiro.
A mãe do menino bem que quis ensaiar um protesto contra a ausência dele em casa e nos pequenos afazeres domésticos, mas o sábio avô lhe disse: "Deixe estar. Ele está aprendendo a amar a natureza". Como boa filha , a mãe do guri acabou obedecendo ao velho pai.

domingo, 4 de maio de 2008

A Borboleta Invisível (Capítulo 8)

O garoto ficou pensando no que o avô disse. No dia seguinte, quando retornou à floresta, já foi sabendo que era preciso praticar a paciência, e que seu tesouro não seria encontrado rapidamente.
Cheio de coragem e confiante de que conquistaria a Borboleta Invisível, o moleque saiu naquele dia de casa assim que o sol raiou munido, do firme propósito de fazer dela sua amiga. Como a mãe sempre disse que a melhor maneira de se chegar ao coração de um homem era cativando seu estômago, o menino resolveu levar uma porção extra de broa. É bem verdade que a Borboleta Invisível não era homem, mas se funcionava para um, porque não funcionaria para outro, né? "Não é tudo filho de Deus?!", atinava o garoto esperto.
E o guri passou o dia inteiro na floresta estudando seus barulhos. Viu um montão de pássaros, joaninhas, formigas, besouros, bichinho bem pititico, outros nem tanto. Naquele silêncio todo, o menino conseguiu escutar as vozes das águas que passavam por entre as pedras do rio. Um monte de passarinho comeu os farelos da broa que ele levou para conquistar a Borboleta Invisível.
Ela não apareceu, pelo menos não que ele conseguisse ver, mas sua manhã não foi perdida porque, se não conseguiu conquistar a amizade da Borboleta Invisível, pelo menos ele semeou confiança nos vários passarinhos e formigas que vieram comer da iguaria de sua mãe.
O guri não foi embora triste, quando retornou para casa no final da tarde. Ele tinha a certeza de que se conseguiu iniciar uma amizade com os amiguinhos da floresta, também conquistaria a da Borboleta Invisível.