sábado, 26 de abril de 2008

A Borboleta Invisível (Capítulo 4)

Ficou tão impressionado com o que viu, que saiu correndo, deixando de lado a intenção primeira de ficar explorando o local, em direção à casa para falar com o seu avô. Seu nono – era assim que ele chamava o pai de sua mãe – era um homem muito sábio. Para o menino, ele era o homem mais sábio do mundo, pois tudo o que perguntava o avô sabia, e, quando não sabia, os dois juntos iam procurar num livro grande de capa preta que o nono havia apelidado de "Pai do Conhecimento". A curiosidade era tanta, mas tanta, que, quando o moleque conseguiu achar o avô, que estava debaixo de uma árvore frondosa, agachado, plantando margaridas, o coração parecia querer sair pela boca, e as palavras se embaralhavam com o ar, produzindo sons estranhos e desengonçados. O avô, conhecido por sua serenidade e jeito calmo no falar, sorriu e esperou, pacientemente, o neto se recuperar, para, então, entender o que ele tanto queria.
Demorou uma eternidade para que isso acontecesse. Um minuto inteirinho de aflição do garoto querendo perguntar, e não conseguindo se fazer entender. O avô, sorrindo, pediu que ele respirasse fundo, profundamente, várias vezes, até que as palavras foram se tornando compreensíveis, e ele entendeu pelo que o neto tanto ansiava: queria saber tudo sobre as borboletas.
O velho senhor sentou-se num banco que ficava debaixo de um caramanchão florido e contou tudo o que sabia. A cada relato, o menino fazia novas perguntas, e a prosa durou horas seguidas, sem que ambos notassem o tempo passar. No final, a mãe do garoto teve que os chamar várias vezes para irem almoçar, pois a comida esfriaria.
O estômago dos dois já dava mostras de impaciência e a comida da mãe cheirava até alcançar o outro lado da cerca, mas, antes de se levantar, o avô lhe contou a lenda de que havia naquela floresta um ser muito especial: uma Borboleta Invisível. Quem a visse ficaria batizado pela sorte e, enquanto vivesse, teria em seu poder um tesouro de valor inestimável.
Foram almoçar. A comida estava boa, mas, a cada garfada que o menino colocava na boca, tudo em que pensava era como faria para conseguir ver a Borboleta Invisível e, assim, ser o dono do tesouro que ela traria.

terça-feira, 22 de abril de 2008

A Borboleta Invisível (Capítulo 3)

Certa vez, num dia radioso de primavera, quando a Mãe Natureza mostrava todo o seu esplendor e glória desde os primeiros minutos do amanhecer, o menino saiu cedinho da cama, o galo mal havia cantado. Pegou um pedaço de broa que estava em cima da mesa da cozinha e se esgueirou de fininho pela porta dos fundos, em direção à floresta. Se a mãe ou o pai lhe visse, a aventura estaria perdida. Logo, logo, lhe incumbiriam de alguma tarefa: debulhar milho, varrer o quintal, ou mesmo tomar conta do gato da vizinha, que vivia querendo fazer do canário do seu avô a refeição principal do dia.
Então o menino, depois de ter tomado uma distância considerável da porta da cozinha, e já confiante de que não poderia mais ser visto pelos pais, saiu em disparada, como se fosse um corisco, em direção à floresta que, na sua visão de moleque, era um local mágico e cheio de mistérios. Volta e meia, ele se refugiava ali, quando, é claro, conseguia se desvencilhar dos olhares materno e paterno. Nem sempre era fácil; porém, possível.
O garoto, ao chegar na mata, foi logo envolvido por diferentes sons, que nunca o deixavam de encantar. As folhas das árvores ainda carregavam o orvalho da madrugada ainda não completamente evaporado. Molhadas, brilhantes, resplandeciam parecendo esmeraldas ao sol.
De repente, um balé de borboletas passou em sua frente. Extasiado, olhava-as dançando como se namorassem. O menino ria vendo tanta beleza. As cores das borboletas pareciam terem sido tiradas do arco-íris. Uma variedade caleidoscópica que fazia o garoto arregalar os olhos e buscar identificar cada uma. Mas o dançar era rápido demais e, muitas vezes, ele não sabia onde começava uma cor e terminava outra. A visão durou poucos segundos, tempo suficiente para que o menino se apaixonasse pelas borboletas e resolvesse daquele momento em diante, vir sempre à mata admirá-las. Nascido e criado naquelas bandas, sempre vinha à floresta, mas era a primeira vez que conseguia presenciar o dançar das borboletas.