quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Natal

Eu me lembro muito bem de um Natal. Foi o primeiro Natal de que tive consciência ser Natal. A árvore de plástico com algodão intercalado entre as folhas era armada na sala de visitas, as bolas coloridas dependuradas buscavam reproduzir alguma árvore de novela que minha mãe assistia na TV.

Em todos os Natais lá em casa sempre teve rabanada. Meu pai era um grande aficionado pela guloseima e esperava o ano todo para comer a iguaria. Não adiantava fazer rabanada fora do Natal, ele não comia, não gostava.

Só o Natal era capaz de temperar com fantasia, esperança e amor aquele pão com leite, açúcar e canela em pó.

Eu me lembro muito bem desse Natal porque foi nele que ganhei um Ferrorama. Sempre me encantaram os trenzinhos que via nos filmes americanos. Vida de americano é uma coisa, vida de brasileiro é outra, mas o Papai Noel foi generoso naquele ano, e ganhei uma enorme caixa com trenzinhos, vagões e trilhos infinitos.

Eu me lembro muito bem do contentamento que senti. Naquele momento compreendi a alegria que meu pai tinha por ser Natal e poder comer rabanada. Meu trenzinho também veio temperado com fantasia, esperança e amor, e eu sorria, sorria, sorria na fé infantil de acreditar que nunca deixaria de sorrir.

Outros Natais vieram. Mas nunca mais um como aquele consegui viver. O trenzinho me acompanhou a infância inteira, mesmo depois de meu pai ter partido.

Eu cresci.
Tive alegrias, tive tristezas.
A vida seguiu, e hoje quando no Natal tem rabanada lá em casa penso no pai. Penso na sua alegria infantil e sinto saudades.

“Raiva de não ter trazido o passado guardado na algibeira”.
O poeta estava certo.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Jabuticabeira - Série Eu me lembro muito bem...

Eu me lembro muito bem de uma jabuticabeira que tinha no quintal do meu tio. Era uma árvore frondosa, de raízes profundas, copa alta, uma bela espécie, que era a alegria de todos nós, crianças.

Naquela jabuticabeira brinquei de Tarzan, aprendi a subir em árvore e fazer do balanço um belo trapézio. Foi lá que dei meu primeiro beijo, no vizinho do meu tio, de cujo nome já nem me lembro.

Contudo, eu me lembro muito bem do quanto aquela jabuticabeira ficava linda quando florescia, pintando o tronco inteiro com pequenas flores brancas, que depois caiam e faziam surgir jabuticabas doces como mel, como só a infância é capaz de produzir.

Como era bom colher cada fruta, chupando e me deliciando, até alcançar os frutos mais altos e mais doces. Doces como os sonhos e as despreocupações do meu mundo sem problemas e sem contas a pagar.

Hoje moro num apartamento perdido numa grande metrópole, mas trouxe minha infância guardada na algibeira: na sacada da sala, há um vaso de bonsai onde abrigo uma muda da jabuticabeira da casa do meu tio. A miniatura me traz lembranças e saudades armazenadas na memória.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Perfil de personagem para conto policial

DETETIVE – Horácio, um senhor de 64 anos que trabalha no Departamento de Direito Autoral da Biblioteca Nacional. Apesar de já ter tempo para se aposentar, não cogita a ideia. Tem uma filha que mora no exterior, com a qual não tem nenhum contato.

Viúvo, não tem parentes próximos. Mora na Rua do Catete, num apartamento de dois quartos, de frente, num prédio antigo. É um leitor voraz. É um dos responsáveis por ler documentos e cotejá-los, para assim autorizar, ou não, o direito autoral da obra. Tem forte faro para descobrir sucessos literários. Se ele diz que um texto será sucesso, invariavelmente a obra se torna best-seller.

Tem o aspecto de um senhor de terceira idade. É vaidoso, mas não ao extremo. Pinta os cabelos e, constantemente, vai ao podólogo; tem uma unha encravada, que com frequência o persegue e “dá sinal” toda vez que algum fato “diferente” ocorre. Lê muitos contos policiais. Não é gordo, mas tem uma pequena “saliência” abdominal. Usa um casaquinho leve, ao estilo antigo; a calça é social; e tem um canivete suíço que só usa para descascar as frutas que compra na rua.

CENÁRIO – O crime ocorrerá na área do Catete, Largo do Machado, início do Flamengo. O assassino não terá hora para atacar. Tem assassinado pessoas como mendigos, meninos de rua, porteiros, empregados, camelôs, balconistas. Foram assassinadas quatro pessoas pela manhã, três na hora do almoço, duas à tarde, e cinco à noite (início da madrugada). Das catorze vítimas, oito eram mulheres, quatro crianças e dois homens, sendo estes pessoas da terceira idade.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Perfil de personagem para conto policial II

DETETIVE = Marina, uma adolescente que mora em Copacabana. Tem quinze anos e vive lendo, uma CDF. Tem um amigo, Roberto, que ela chama de Betinho, um ano mais novo, que é seu vizinho.

Anda pelo bairro com facilidade. Conhece cada pedacinho do local: becos, ruelas e personagens. É filha de um bancário e uma professora de História.

Não tem irmãos. Passa a maior parte do dia sozinha. Tem uma empregada, que vai ao apartamento duas vezes na semana. Ela e seu amigo Betinho percorrem o bairro de bicicleta. A dela tem cestinha na frente. É uma adolescente atípica. Não sai para a night, não tem galera para frequentar. É uma pessoa sozinha. Mariana não tem cara de nerd.

CENÁRIO = O bairro de Copacabana. São cinco assassinatos. As vítimas são sempre senhoras, entre sessenta e setenta e cinco anos, e todas recebem, dias antes, orquídeas lilases.

CRIMINOSO = É um criminoso metódico. Antes de matar, procura conhecer o perfil de cada vítima, detalhes insignificantes, como o que gosta, que remédio toma, se tem parentes etc. Mora em Botafogo. É um homem de quarenta e dois anos. Trabalha como arquivista de um grande jornal carioca. Está sempre por dentro das notícias e frequenta constantemente as Editorias de Cidades e Polícia do veículo de comunicação. É capaz de citar cada evento, com data, dia etc. Tem memória fotográfica.