quarta-feira, 14 de maio de 2008

A Borboleta Invisível (Capítulo 13)

Então, num dia em que o menino estava sentado no tronco e quando parecia que a floresta inteira tinha parado para o escutar, pois ele lia a história de um anjo que havia visitado um casal de irmãos, a Borboleta tomou coragem, respirou fundo umas três vezes – Funnn, Funnnnnn, Funnnnnnnnn! – e pousou na ponta do nariz do menino de olhos da cor do céu. O menino ficou vesgo ao notar aquele ser angelical parado no seu pequeno nariz de sardas espalhadas. O guri arregalou os olhos, abriu a boca e ficou paralisado porque soube no mesmo instante que aquela era a Borboleta Invisível que lhe daria um tesouro inestimável.
Mexer?! Nem pensar! Respirar, então?! Impossível! Uma luz emanava daquele ser tão especial. Ela não era um pirilampo, é bom que se diga. Mas sua beleza era tão radiosa e exuberante, que parecia emanar uma luz própria dos céus, encontrada somente nos seres angelicais.
A Borboleta Invisível era muito mais bonita do que seu nono falara. Muito mais! Suas asas pareciam bordadas, seu corpo delgado parecia ter sido esculpido por algum anjo marceneiro e seu vôo encantava até o mais duro coração de pedra ou gelo. Do nariz, a Borboleta foi pousar na mão que segurava o livro de história. Em seguida, na coxa, e, por último, na ponta de sua botina. Depois, saiu voando, num bailado de fada, arrebatando o menino com sua beleza, levando-o ao êxtase por apreciar tanta formosura assim na vida!
A Borboleta começou a voar, e o menino no mesmo instante correu atrás do ser angelical, temendo perdê-la para sempre. Mas, do mesmo jeito que surgiu, a Borboleta desapareceu num piscar de olhos, e o garoto ficou temeroso de que tudo não tivesse passado de um belíssimo sonho.

domingo, 11 de maio de 2008

A Borboleta Invisível (Capítulo 12)

O convívio diário do menino com a floresta teve seus resultados. Durante todo o tempo, a Borboleta Invisível ficou por ali rondando, escutando sua voz, as histórias que contava sobre piratas de uma terra distante e foi aos poucos tomando confiança no moleque. Ela, que sempre foi desconfiada, começou a acreditar que o guri não era perigoso, e, quando viu, já ansiava por sua presença na mata, que era sua casa. O ser angelical queria muito que as pessoas a enxergassem, ansiava verdadeiramente por isso, mas, no fundo do seu coração de renda, ela temia ser machucada. Temia que os seres humanos a prendessem e a colocassem dentro de um vidro, dependurada num quadro na parede. Volta e meia surgia alguém que aprisionava assim uma porção de primas suas e as levava para outro mundo, sabe lá Deus para onde.
A Borboleta Invisível tinha medo, mas esse sentimento se misturava com o desejo de ser vista e amada. É bem verdade que ela não tinha certeza nenhuma de que, ao ser vista, seria automaticamente amada. Não havia garantia, como nada na vida. Mas a Borboleta Invisível tinha o desejo de tentar, de se arriscar, de dar o primeiro passo na direção dos seres humanos. E, numa linda manhã de verão, quando as flores e árvores com seus frutos mostravam todo seu esplendor, a Borboleta Invisível tomou a firme resolução de se mostrar para o menino. É bem verdade que ela não sabia se ele conseguiria enxergá-la. Afinal, ele não era o primeiro com quem ela tentava se comunicar, mas poucos, bem poucos conseguiram enxergá-la, mesmo quando ela aceitava ser vista. Não são todos que têm a capacidade de enxergar o que é realmente belo. Muita gente não consegue ver coisas que estão debaixo do nariz. Mas se a Borboleta não tentasse, como conseguiria saber o resultado, né?