quarta-feira, 7 de maio de 2008

A Borboleta Invisível (Capítulo 10)

Livre da implicância materna, o menino agora se sentia alforriado para passar a maior parte do tempo na sua floresta particular. Várias vezes, o avô lhe acompanhou na empreitada, sentando com o garoto no meio da mata para contar coisas que sabia sobre aquele universo verde, lembrar de quando tinha a idade do menino e corria pela estrada afora, sempre em companhia de seu nono também. Quando o menino ouvia aquilo, ficava espantado! Para o moleque, o avô já tinha nascido com aquela idade, de cabelos brancos. Mas seu nono contava as histórias, e isso sempre acalentava o seu coração. A voz pausada e suave encantava não apenas o neto, mas também os bichos que povoavam aquela floresta. O guri notou que, enquanto o sábio ancião contava as histórias, os pássaros, formigas, joaninhas e bichinhos de diferentes portes se avizinhavam atentamente. Aquilo deu uma idéia ao garoto. Se uma legião vinha escutar seu avô, quem sabe ele não poderia fazer o mesmo com a Borboleta Invisível? Durante aquele tempo, o menino ficou tão entretido em ler os livros presenteados pelo avô, que esqueceu, temporariamente, de seu maior objetivo em estar na floresta: conquistar a confiança e a amizade da Borboleta Invisível. No dia seguinte, o guri levou um dos livros de capa verde e começou a ler com a voz pausada, semelhante à que o nono usava quando lia histórias para ele dormir. Sua voz parecia ecoar na clareira. No silêncio suave da mata, a voz do garoto se assemelhava ao vento que corta as folhas das árvores. Os animais começaram a se aproximar para escutá-lo. Os dias foram passando, e o menino fez da leitura em voz alta um hábito. Ele notava que os seres da floresta gostavam mais quando lia as aventuras dos piratas de terras distantes. As borboletas ora voavam ao seu redor, ora pousavam nas pedras ou nos troncos das árvores que circundavam o local onde o guri tradicionalmente sentava para ler suas histórias. Mas o moleque não ficava apenas ali lendo, lendo, lendo… Não! Com o passar do tempo, cada pedacinho daquela mata era conhecido por ele. Não havia um tiquinho de terra, um cantinho qualquer que o garoto não conhecesse, de que não tivesse ciência. O menino conhecia todos os bichinhos, e os novos que nasciam já se tornavam seus amigos. Mas a Borboleta Invisível, nada. Nadica de nada!

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