sábado, 2 de agosto de 2008

Diário de bordo - VI parte

Rio de Janeiro, 19 de março de 2008.

Na sexta aula, tratamos sobre a realidade ao trabalharmos o texto O príncipe e o mago de John Fowles. Gostei muito deste texto, mas entre a história da Marina e este, prefiro o primeiro. Na verdade, os dois são excelentes, mas se tivesse que escolher um seria o da Moça Tecelã.
O texto do Príncipe trata sobre os limites da palavra e da ficção. Realmente, a linha divisória destes dois mundos é muito tênue, no meu caso. Meu pacto com a fantasia é grande. Isso não quer dizer que não funcione na realidade. Sou uma mulher adulta, vacinada, pago as minhas dívidas, trabalho, lavo minha calcinha, faço minha comida e arrumo a casa. Tudo que uma pessoa adulta é capaz de fazer. Contudo, mesmo assim meu pacto com a fantasia ainda é grande, isso não me torna uma pessoa irresponsável, mas sim uma escritora. Sempre quando vejo algo interessante, anoto no meu caderninho. Eu tenho um caderninho, e não é de hoje.
Quando entrei para a faculdade, uma das primeiras aulas que tive foi com a Pina e ela falava sobre a necessidade de se ter um caderninho para anotar as idéias, e que o aluno deveria carregar o objeto para cima e para baixo. Eu já tinha o meu antes mesmo dela falar. O engraçado é que nunca me toquei que ter aquele caderno era uma atitude positiva e própria de alguém que escreve. Tal atitude era tão natural que não conseguia validar a iniciativa.
Outra coisa que me chamou a atenção no texto de Fowles foi a temática da verdade e mentira. Sempre fui fascinada por este tipo de assunto: verdade X mentira; beleza X feiúra; bom X mau ... Sempre. São temas apaixonantes, e isso sempre me levou à reflexão.
Ao longo dos séculos, muitas das verdades que antes se acreditavam piamente vêm sendo derrubadas uma a uma, como, por exemplo, a verdade que a Terra é o centro do universo; que o coração é o órgão mais importante do corpo. Muito já foi descoberto, e outras verdades nos serão ainda reveladas, e isso é o que dá o tempero da vida. É assustador, tenho que admitir, mas a possibilidade de se ser surpreendida num virar da esquina é que faz com que cresça emocional e espiritualmente, e com isso minha escrita tende a se aprimorar. Minha mãe sempre dizia: crescer é ter opção de escolha e ser responsável por aquilo que se escolheu. Sábia dona Carla (tenho o seu nome)! Não é fácil se manter fiel no que se acredita. Muitas vezes se paga um preço alto por isso, mas não tem jeito. Quando se vai contra aquilo em que se acredita, uma parte da pessoa morre, fica semelhante a um zumbi, caminhando pelo mundo. Não quero isso.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Diário de bordo - V parte

Rio de Janeiro, 17 de março de 2008.

Na quinta aula, a Ana falou sobre várias coisas que fizeram com que refletisse sobre a questão do autor. Ela ainda utilizou o texto da Marina Colassanti. Como é interessante olhar a escrita desta autora com outros olhos, ver a possibilidade de várias interpretações como, por exemplo, analisar o texto pela ótica feminista ou marxista!
É isso que quero fazer! Poder ver as várias nuances de uma interpretação, e para isso acontecer preciso treinar o meu olhar, instrumentalizando-o com o conhecimento teórico.
Hoje, um pouco mais cedo, tive aula com o (meu amado, idolatrado, salve, salve!!!) professor Zé Carvalho e lhe falei que ao ver o Je vous salue, Marie interpretei de modo diferente a temática da obra de Jean-Luc Godard, diferente do que ele falou em sala.
Vi que Godard estava tratando ali não a temática da mulher, mas sim a questão do sensório e a espiritualidade. Aí chega a aula da Ana, e falamos de várias interpretações que se pode ter sobre determinada obra. Tal possibilidade é enriquecedora, é desler e reler de outro jeito. Quando consigo fazer esse tipo de interpretação, sinto que minha escrita ganha.
Na hora que a Ana estava falando sobre essas questões, fiquei pensando sobre a trilogia que escrevi sobre as Margaridas. São três contos infanto-juvenis que têm como temática estas flores:

A Margarida que sonhava em ser Rosa
A Margarida que se pintou de Paixão
A revolução das Margaridas


Fiquei pensando em como as pessoas poderiam ler esses textos que escrevi. Deu vontade de pedir para ler em sala, mas depois recolhi a viola no saco e fiquei quieta.
Como escritora, tenho essa necessidade der ser lida. Drummond retratou muito bem isso ao escrever: Por isso me dispo, por isso me exponho nas livrarias. Preciso de todos (vai escrever bem assim, lá em casa!!!!).