quarta-feira, 29 de abril de 2009

O minuto eternizado

Domingo: o sol de abril brilhava como se fosse uma primavera européia e eu andava pela Rua do Catete quando me deparei com uma situação curiosa. Vi um pequeno aglomerado de pessoas olhando uma série de fotografias em preto e branco. Um camelô as vendia e gente de variadas idades circulava ao redor das araras onde estavam dependuradas. Tinha velhos (melhor dizendo, em época do politicamente correto, “pessoas da melhor idade” ou “gente da Terceira Idade”); havia adolescentes e também homens e mulheres nem tão novos, nem tão velhos. Mãe empurrando um carrinho de bebê também olhava para as imagens do passado, assim como donas de casa, turistas, domésticas, surfistas e gatinhas douradas pelo “sol que resplandecia no firmamento”. Ou seja: um amontoado de gente interessada naquelas fotografias do Rio antigo. O passado chegou aos olhos das pessoas que olhavam os instantâneos de uma realidade que não volta mais.
A fotografia tem essa capacidade mesmo. Sempre fui apaixonada por foto em preto e branco, porque ela traz em seu bojo uma dramaticidade que a colorida não tem. As cores distraem a visão do que vemos da vida, o preto e branco não.
Mas não era isso que queria contar. O interessante foi ver a fisionomia e a reação de cada um. Pouco mirei as fotos, porém o que fiz mais foi o exercício de apreciar a alma humana.
Havia um senhor (com cerca de 80 anos) que olhava os Arcos da Lapa como se tivesse saudade do quintal de sua casa, com um olhar serenamente triste.
Um turista espiava as fotos sem entender direito e ria, comentando (em inglês) com o colega as cenas curiosas que via. Nada muda. Nós sempre fomos encarados - e ainda continuamos sendo - pelos europeus como algo estranho, uma espécie que merece ser estudada e analisada perante a grande cultura do Velho Mundo.
Uma jovem sorria ao ver a imagem dos transeuntes caminhando na Avenida Rio Branco. Era outro tempo, um tempo em que as mulheres vestiam elegantemente chapéus e os homens cerimoniosamente usavam gravata e terno, como se fossem para algum evento formal. A vida era mais formal. Havia o certo e o errado apenas, a teoria da relatividade ainda não tinha chegado ao convívio social. Bons tempos, bons tempos...
Fui para casa e peguei minhas próprias fotos. Busquei o álbum amarelado, esquecido numa caixa qualquer, e revi gente querida, pessoas que se foram de uma maneira ou de outra. Vininha (perdoe-me a intimidade como trato o poeta Vinícius de Morais) sempre disse que a vida é a arte dos encontros e desencontros. É verdade, poeta amado. E a foto tem esta capacidade de trazer o que passou. O abstrato e o imponderável se concretizam no minuto eternizado.