sexta-feira, 2 de maio de 2008

A Borboleta Invisível (Capítulo 7)

Mas como encontrar a Borboleta Invisível? Se ela morava naquela mata, em qual toca dormia? Aliás, borboleta dorme? Borboleta mora em toca como os coelhos? Tantas perguntas... E nem seu avô nem o "Pai do Conhecimento" estava por perto para lhe dar a resposta a tantas indagações. Era muita falta de sorte! Mas o menino não desistiu e continuou ali na floresta, tentando enxergar a Borboleta Invisível.
As horas foram passando, a "noite foi chegando devagarzinho com seu manto negro, salpicado de estrelas", e antes que sua mãe brigasse e o deixasse de castigo por chegar atrasado ao jantar, o menino resolveu ir embora. Contudo, ele se prometeu continuar na manhã seguinte à procura do ser que lhe bafejaria com a sorte.
Chegando em casa, o neto foi procurar o avô para esclarecer várias questões que lhe surgiram enquanto estava na floresta. A conversa foi longa.Só houve uma parada durante o jantar, pois o pai sempre insistiu que a hora de comer era sagrada e que todos deveriam se concentrar no alimento, agradecendo ao Pai Maior. Nunca o silêncio à mesa incomodou tanto o guri. O avô, que sempre foi de comer compassadamente, saboreando a gostosa sopa que a filha havia feito, parecia mais lento do que os dias normais. Mas até que a refeição acabasse e o garoto pudesse continuar a prosa com o querido senhor de cabelos brancos penteados para trás, que tinha os olhos dos mesmos tons que os seus, pareceu uma eternidade. O nono lhe explicou que era difícil conseguir enxergar a Borboleta Invisível, porque ela era muito arisca e nem todo mundo conseguia vê-la; que só aparecia para alguns privilegiados que conquistassem sua confiança; que o neto deveria ter paciência e ganhar sua amizade, para que ela se sentisse segura ao seu lado. "Para se confiar numa pessoa, é preciso comer um quilo de sal com ela. Todo dia um pouquinho", sentenciou o sábio ancião.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

A Borboleta Invisível (Capítulo 6)

No dia seguinte, o guri levantou novamente cedo, mais cedo ainda, junto com o galo, e novamente passou na cozinha, pegou um pedaço de pão recém-feito, e saiu em disparada na direção da mata. Não chegou sequer a tomar o seu café com leite, pois queria chegar cedo na floresta. Vai que a Borboleta Invisível madrugasse também! Se ele chegasse tarde, ela poderia já ter ido para outros lados, sabe-se lá!
Chegando à mata, o menino ficou pesquisando cada pedacinho do terreno coberto de árvores, folhas caídas e flores silvestres. Encontrou os mais diferentes pássaros, com plumagens ricas e variadas. Borboleta, então?! Nem se fala! Cada uma mais linda e delicada que a outra, mas nada, nada mesmo, da Borboleta Invisível. O ser que lhe traria um tesouro de valor inestimável, conforme o avô lhe havia contado. Sentou-se na raiz de uma árvore e ficou pensando como seria encontrar um baú contendo um tesouro. Cheio de pedras coloridas, pérolas como as que sua mãe usava e que foram compradas na quitanda do "seu Juca", só que essas teriam valor! O garoto não era ambicioso… Quer dizer, só um pouquinho. A descoberta do baú com o tesouro (porque todo tesouro que se preza tem que vir dentro de um baú), sim, lhe abriria as portas para conhecer outras terras, viajar. A mãe sempre dizia que não podia ir para a capital que não tinha dinheiro, que o pai precisava juntar para comprar semente boa para a próxima estação. Os anos se passavam, e o menino, que sempre acalentou o desejo de ir para a capital ver o mar, não conseguia realizar seu sonho. "Afinal, já estou ficando velho", pensava, "Daqui a pouco, faço dez anos e não vivi a vida", argumentava consigo mesmo!
Por isso lhe era tão importante encontrar a Borboleta Invisível e ser bafejado pela sorte. O tesouro de valor inestimável lhe abriria as portas para ver o mar e viajar nele por horas e horas. Seu nono lhe disse que o oceano era grande, mas tão grande, que se poderia navegar nele por meses antes de encontrar outro país, sim, senhor!

segunda-feira, 28 de abril de 2008

A Borboleta Invisível (Capítulo 5)

O moleque, como todo garoto que se preza, sempre quis ser pirata. Mesmo nunca tendo visto o mar de perto, seu avô lhe dizia da imensidão e da profundidade inigualáveis do oceano. Seu sonho era conhecer as terras distantes que seu nono vivia a lhe contar. Terras onde existissem neve e montanhas tão altas que não daria para ver o topo escondido lá em cima, entre as nuvens. O garoto sonhava em fazer uma longa viagem, tendo sempre a tiracolo o avô, sua coleção de pedrinhas e mais meia dúzia de bugigangas que ele considerava essenciais para a sua vida. Coisas que qualquer menino carregaria para onde quer que fosse.
E ele pensou, pensou, pensou... passou a tarde inteira na porta da cozinha, sentado nos degraus, atinando uma maneira de conseguir ver a Borboleta Invisível. A mãe logo foi ver se ele tinha febre ou algo parecido. Sim, porque, espevitado do jeito que era, só se estivesse muito doente é que ficaria quieto, num canto qualquer. Mas ele não tinha febre. Não a febre que a mãe pensava, mas sim um desejo intenso de ver a Borboleta Invisível!
A noite chegou e as estrelas surgiram lá no alto, as luzes da casa foram se acendendo e o menino continuava na porta da cozinha, pensando num jeito, tentando atinar uma maneira de conseguir realizar o seu desejo.
A mãe o chamou, o pai também, mas ele só entrou depois que o avô sentou-se na porta junto com ele, aconselhando-o que fosse jantar e depois dormisse, pois saco vazio não pára em pé e nada melhor do que uma boa noite de sono para "desanuviar" as idéias.
Como tudo o que o nono falava dava certo, o moleque seguiu seu conselho.