domingo, 9 de março de 2008

Nasci ... (Capítulo 3)

Bem, depois desta bolha proustiana, volto. Onde estava mesmo? Ah, sim, lembrei: Tereza negava que fosse menino. O exame errou porque foi mal interpretado. Ao olharem a criança que se formava e verem o punho que eu havia fechado na frente do sexo, eles pensaram que fosse o saquinho do menino. Claro que, como boa moça de família, não ficaria posando assim, mostrando a genitália desnuda para qualquer um, né? Tem graça!
Outro que também não acreditava em tal hipótese era tio Plínio. Na verdade, ele não acreditava que fosse menino e sequer que fosse menina. Para ele, o que mamãe tinha era um tumor. Durante toda a gravidez ele insistia:

- Carla, vá num médico do Rio. Você fica se consultando com esses médicos do interior, que não sabem nada, que não têm aparelhos potentes. Vá para o Rio!

Quando nasci, minha tia Tereza dizia, caçoando dele:

- Olha aí, Plínio, olha aí o “tumorzão” que nasceu!

Não classifico meu tio como um esnobista ao alertar a irmã. Durante décadas minha família conviveu e morou em São Paulo e nas cidades prósperas do seu interior. Quando eles chegaram a Barra Mansa no meio da década de 50, a rua principal da cidade (Joaquim Leite) era toda de terra batida. Havia chovido e estava um lamaçal, enquanto em Taubaté (cidade onde a família até então residia) era toda calçada com paralelepípedo. Hoje Barra Mansa é completamente diferente, uma cidade com cerca de 180 mil habitantes – a segunda mais populosa do Sul Fluminense, perdendo apenas para Volta Redonda. Mas naquele tempo não era assim, por isso a preocupação de tio Plínio.
Bem, mamãe não atendeu ao pedido do irmão e a gravidez seguia calma, tranqüila e ela esperava a Fezinha para comprar o enxoval no Rio.
Fezinha trabalhava no comércio em Guará e sempre tirava férias no final de janeiro, quando seguiam ela e o pai, meu tio Livinho, para Barra Mansa, passando com a família de 15 dias a um mês. Fezinha sempre foi uma pessoa expansiva, bem humorada, risonha, encarando a vida com alegria. Tio Livinho sempre foi mais hermético, fechado, muito ciente de seu papel como pai e tio, mas também sabia ser um conservador generoso e risonho. Esses dois sempre estiveram presentes em minha vida. Sempre, nos momentos alegres e também nos tristes. Aliás, os Giffonis sempre marcaram presença em minha existência. Meus primos e primas de São Paulo e Minas fazem parte de minha memória desse tempo.

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