quarta-feira, 16 de abril de 2008

A Borboleta Invisível (Capítulo 1)

Talvez você não acredite nesta história que vou narrar. Ela foi contada por meu avô, que ouviu de seu avô, que, por sua vez, escutou de seu nono, que era de uma terra bem distante.
Como todo bom "causo", este começa assim:
Era uma vez uma aldeia, e, próxima a ela, existia uma floresta cortada por um rio cujas águas cristalinas nasciam numa distante montanha. A terra ficava perdida num planalto central deste mundão de Deus. Dentro desta floresta densa, habitava um ser angelical, de cuja existência poucos se davam conta. Naquela mata de vegetação cerrada, havia uma linda borboleta.
Você pode até dizer: "Mas que novidade é esta? Borboletas existem aos montes pelo planeta afora!"
É verdade. Mas esta era especial. Muito especial mesmo, pois era uma Borboleta Invisível.
Poucos, muito poucos, podiam enxergá-la naquela floresta densa de tons de verde que pareciam ter nascido da paleta de um artista.
As borboletas que havia naquela mata eram conhecidas por suas belezas e variedade de cores, mas se os habitantes daquela terra pudessem enxergar a Borboleta Invisível, aaah… Certamente a elegeriam como o ser mais belo deste planeta. Mas ninguém, ninguém mesmo, conseguia vê-la para apreciar tanta formosura.
Suas asas lembravam rendas que pareciam criadas por alguma mão de fada que, certamente, habitava aquela mata. Cada pedacinho de seu corpo delgado era de uma perfeição que só mesmo a Mãe Natureza seria capaz de gerar.
Mas, apesar de tudo isso, o povo daquela terra não conseguia vê-la pousada nos largos e extensos troncos das árvores que circundavam a floresta, o que não deixava de ser uma pena, porque tanta beleza não deveria ser apreciada apenas por alguns. Sua transparência era motivo de tristeza para a Borboleta Invisível. Ela queria muito ser vista, apreciada e amada, mas ninguém tinha enxergado suas asas bordadas, suas antenas delicadas e seu voar angelical.
Triste é a sina de quem não consegue ser vista pelo outro. Dá um pesar danado no coração de quem se torna invisível para o mundo, principalmente quando tudo o que se almeja é ser admirado, é fazer brotar no peito de alguém um sentimento que acalente as entranhas como se fosse um colo quente e reconfortante.
A Borboleta Invisível se sentia assim, entristecida em sua invisibilidade, embora conformada com seu destino.

3 comentários:

Nathalia disse...

Realmente às vezes nos sentimos como essa borboleta, invisível ao mundo e quem sabe a formiga do texto de Clarice, mas são nesses momentos que devemos esquecer de tudo para podermos então VER as grandes maravilhas da vida.
Muito legal Carla.

Anônimo disse...

Carla, minha borboleta visível... visibilíssima, eu diria!

Que encanto esse texto, que com tamanha poesia toca nas necessidades mais íntimas do ser, que é 'ser reconhecido'... Seu texto me remeteu a frase que eu mais amo da Clarice (sempre ela...)"AMAR os outros é a única salvação individual que eu conheço: Ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca"
Um beijo

LEONARDO DE MORAES disse...

Depois manda esse texto integral pra eu ler... li o primeiro e o segundo e fiquei curioso. Abs, Léo