sexta-feira, 29 de abril de 2011

DORMIR

A claridade da luz artificial da rua invade o quarto através das persianas, mostrando o contorno de um corpo na cama. A porta do quarto é aberta lentamente e em seguida fechada. Pés descalços caminham e seguem até o banheiro. A luz é acessa. O chuveiro é ligado. Ouve-se a porta do boxe sendo fechada. Silêncio. O chuveiro é desligado e a porta do boxe é aberta. Pés caminham em direção ao quarto, formando pequenas poças no tapete. A luz difusa do banheiro projeta uma sombra do corpo que caminha em direção à porta do guarda-roupa, que é aberta. A mão tateia, procurando a camisola no meio da pilha de roupas. O roupão é jogado no piso. As mãos vestem a camisola. Pés caminham em direção da cama, mãos levantam o edredom, e o corpo se deita. Silêncio. O corpo vira, e dois pares de olhos se encaram na penumbra do quarto iluminado pela luz do banheiro e pela claridade artificial da rua. Silêncio. A mão toca a pele da coxa do outro corpo devagar. Silêncio. Os corpos se aproximam. As bocas se buscam. Silêncio. Os corpos se enroscam. Mãos tiram as roupas com avidez. Silêncio. Ouvem-se respirações entrecortadas. Silêncio. Um gemido. Silêncio. O barulho dos corpos se chocando é ouvido. As respirações tornam-se mais apressadas. Dois longos gemidos inundam o ambiente. Silêncio. A luz do banheiro ilumina a cama desfeita. O corpo levanta e pega a camisola do chão. Mãos vestem a camisola. Pés caminham até o banheiro. A mão desliga a luz e os pés voltam para a cama. O corpo deita-se. Silêncio. Um ronco suave ouve-se no ambiente. Dois olhos olham para o teto. O ronco baixinho continua a ecoar no quarto escuro. Um suspiro profundo se ouve também.

Nota da autora: Este conto faz parte do projeto de um livro de contos chamado COTIDIANO. São ao todo quatro contos: ACORDAR, CEGUEIRA, ABISMO e DORMIR. Para melhor compreender o total da obra, sugiro que leia as quatro histórias nesta sequência.

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