segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A menina de saia xadrez

Sempre de tarde, quando era um jovem mancebo – e isso já faz muito tempo! – via uma menina passar por mim vestindo uma graciosa saia xadrez. A moleca, sim porque era uma garotinha que sempre desfilava sorrindo de um jeito de quem iria dar muito trabalho aos pais dali a uns dez ou quinze anos, caminhava – lembro-me bem – com os cabelos negros balançando. Eram duas tranças artisticamente trabalhadas, que sempre terminavam com laços de fitas coloridas. Ela andava pela calçada, pisando como se o longo passeio público tivesse se transformado em um grande jogo de amarelinha.
Não me pergunte o seu nome. Não sei. Não me pergunte onde morava, também não poderei dizer. Só sei do sorriso largo que ela me dava quando passava saltitando em frente à farmácia onde eu trabalhava. Um sorriso infantil, com uma charmosa ausência de dois dentinhos frontais. A saia xadrez fazia parte fazia parte do uniforme que ela usava para ir ao colégio, também não sei onde.
Passados tantos anos, pergunto-me: Onde andará aquela menininha? Será que casou? Teve filhos? Encontrou um grande amor? Ou será que a vida – sempre ela – a tragou, a levou para as correntezas da desilusão?
Não sei, não sei. Como posso saber, não é mesmo ?!
O que sei é que eu não sou mais aquele mancebo, hoje sou um velho ancião. Eu sei… eu sei, estou me repetindo, pois ancião quer dizer que sou velho. Mas permita-me intensificar a minha idade. Demonstrar para você, que me lê – e não me vê –, o quanto de peso do tempo tenho acumulado nos ossos…
O tempo passa como se fosse areia a se perder entre os dedos. Quando jovem, não tinha noção da rapidez e do poder de Cronos: um dia nasci e, sem saber o porquê, me vejo velho, tendo saudade de uma menininha de quem nem sei sequer o nome.
Hoje vejo que meu menino interno, aquele que a vida volta e meia quis matar, queria sair e brincar com aquela menininha, como se fossem dois irmãos, dois primos, dois (quem sabe?) futuros amantes. Todavia, a vida me tragou e o menino que habitava em mim teve que crescer muito rápido, teve que sair, pagar contas, batalhar por um espaço na vida – docemente amarga vida. Com isso, a menininha ficou sem par. Hoje, lembro-me daquela garotinha de tranças negras com laços de fitas combinando com a graciosa saia colegial. Faço uma prece para que ela tenha sido feliz.

Um comentário:

Antonio Carlos Rocha disse...

Oi Carla, parabéns por mais um texto. Gostei do conto reflexivo.
Estive ontem na PUC para uma cerimônia inter-religiosa e lembrei de vc. Saúde e coisas boas !
Antonio Carlos Rocha