segunda-feira, 26 de maio de 2008

A Borboleta Invisível (Capítulo 16)

Os dias foram se passando, e mesmo aos sábados e domingos o menino não deixava de ir se encontrar com os amigos da mata. Contudo, o momento de maior alegria era quando a Borboleta Invisível, que não era mais invisível para ele, aparecia e pousava em seu nariz. Tudo levava a crer que ela gostava das sardas que povoavam o nariz do moleque, e ele não ligava. Afinal, eram amigos, e como tais tinham liberdade para brincar um com o outro.
Porém, apesar de a amizade estar se firmando a cada nascer do sol, a Borboleta nunca havia lhe mostrado o tesouro relatado pelo avô. Uma parte do guri ficava imensamente feliz de só ter a presença angelical da amiga, mas outra parte se questionava o porquê de ela não ter lhe presenteado com o tesouro de valor inestimável. Ele ficava triste quando pensava que talvez fosse porque não merecesse tal preciosidade. Porém, nunca abriu a boca para reclamar de nadica de nada com a fraterna amiga. Sim, porque não havia dúvida de que de eles conversavam entre si. Ela respondia sempre com um bailado que aos olhos dos outros poderia ser incompreensível, mas que o garoto entendia perfeitamente, tim-tim por tim-tim.
Certa noite, depois do jantar, o garoto sentou-se na porta da sala e olhou para o céu estrelado. Seu silêncio chamou a atenção do avô, que se aproximou devagarzinho e sentou do ladinho do neto. O ancião perguntou por que ele estava tão concentrado, e o guri explicou que pensava qual seria o motivo de a amiga Borboleta não lhe dar o tesouro. Ele queria tanto conhecer outros lugares, ver o mar, visitar outras terras, fazer amizades com pessoas e saber como era a neve. O sábio nono ficou primeiro em silêncio, e depois começou a falar com aquela voz mansa, pausada, que demonstrava toda a sabedoria acumulada ao longo dos anos. "Preste atenção: às vezes, a resposta pode estar dentro de você. Precisa só abrir o seu coração. A resposta virá de uma forma ou de outra", aconselhou.
O garoto acreditou. Ele sempre acreditava no que o avô falava, pois tudo o que dizia dava certo. "Mas como ler o próprio coração?", se perguntava. Afinal, na escola ninguém era alfabetizado neste quesito. A professora Glorinha nunca lhe ensinou o abc do coração. Eles aprendiam a ler, escrever, fazer contas de somar, diminuir, multiplicar e dividir. Mas nunca, nunca mesmo, ninguém do colégio disse que o coração fala, que tem uma linguagem. Mas se o nono falou, deve existir mesmo, porque ele nunca mentiu para o neto.

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