quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Diário de bordo - VII parte

ATENÇÃO: Esse é diário que elaborei para a aula de Formação do Leitor da Faculdade de Letras. Adorei cada minuto que tive estudando esse assunto e gostaria de compartilhar com você, pois além de ser um diário de bordo, há também uma reflexão sobre vários assuntos.


Rio de Janeiro, 24 de março de 2008.

Na sétima aula de Formação do Escritor, quer dizer, do Leitor...É sempre assim quando vou escrever esse diário, digito escritor ao invés de leitor, em 99,99% dos casos. Eu sei que a matéria é para estudar o leitor, mas na minha cabeça este é um curso que trata diretamente de minha escrita como escritora (perdoe a redundância). Estudo a mim mesmo, e não o leitor que está sendo formado.
Tenho adorado as aulas. Tem sido apaixonante, e não escrevo isso para ganhar dois pontos de conceito. Quando estava no ginásio, uma de minhas professoras, a Dona Ifigênia, dava dois pontos de conceitos para o aluno que fosse dedicado. Isso tudo ajudava na média geral de sua matéria. Sempre tenho medo de que qualquer professor pense que estou elogiando sua aula porque quero ficar bem na foto. Sofri perseguição dos alunos quando estava no ginásio, que me acusaram de estar querendo puxar o saco da professora para ganhar os conceitos. Foi inclusive com essa professora que... Bem, não se trata disso este diário, apesar da Ana ter dado a oportunidade da gente divagar um pouco. Contudo, estou divagando demais.
Voltando então à vaca fria: Na sétima aula da Ana Paula, estudamos dois textos do Luiz Fernando Veríssimo e as cartas que os leitores enviaram ao jornal O Globo referentes aos textos. Já escrevi isso e torno a repetir: O talento de Veríssimo é superlativo, o cara é o cara. Quando vejo gente assim, a vontade que tenho é de pegar um canudinho, abrir um pequeno orifício no crânio e chupar avidamente. Ele é demais!
Bem, depois desta tietagem retorno à questão da aula (hoje estou divagando muito, né?! Desculpe. Tentarei me comportar). No texto, Veríssimo utiliza a ironia como mote para o desenvolvimento de sua história, que foi baseada num fato real: Lula tomou um gole de um vinho carésimo, justo ele, um pau-de-arara, um Zé Ninguém, um torneiro mecânico nordestino semi-analfabeto, praticamente. Veríssimo expõe a ferida ao mostrar como a elite reagiu a essa questão, externando todos seus preconceitos enraizados e mesquinhos. Só que do outro lado tem o receptor, e se há um ruído qualquer a comunicação não se concretiza, segundo teoria de comunicação que estudei lá atrás, quando fiz a faculdade de jornalismo.
Já senti isso na pele. Em minha cidade, Barra Mansa, trabalhava na editoria de Política, minhas maiores experiências profissionais sempre foram nessa editoria e na de Cultura. Porém, também, atuei em outras como Cidades, Internacional, Economia Popular, Polícia (eu odiava trabalhar nesta área com toda a força do meu ser!). Bem, então, tinha uma coluna política chamada Registrando, e, como era repórter setorista, cobria a Câmara Municipal, sempre que tinha notícias. No dia 31 de março, sugeri ao meu amado, idolatrado, salve, salve, então, editor Antonio Carlos, que me autorizasse a escrever uma coluna falando de coisas impossíveis de acontecer, já que o dia seguinte seria 1º de Abril. Ele topou, e o prazer que senti ao escrever essa coluna foi inenarrável. Disse que a prefeita tinha se encontrado com os dois piores inimigos políticos que atuavam no Legislativo para fazer um tratado de paz; depois contei que o BNDES iria investir a fundo perdido uma quantia absurda, tipo 250 milhões de dólares, para a retirada do pátio de manobras – um problema que assola a cidade há mais de 50 anos, mas que antes disso o Spilberg iria filmar a saga da remoção do pátio para um filme em Hollywoody; disse também que a cidade de Barra do Piraí estava recebendo geógrafos para analisar o solo, pois havia a suspeita de que o município teria no seu subsolo uma bacia de petróleo inexorável, mas que o governo da cidade ao ser questionado negava tudo.... enfim, fiz a festa.
No final do texto, dizia que o Jornal A Voz da Cidade lamentava a perda de dois dos seus melhores profissionais: o editor Antonio Carlos, que tinha sido convidado para trabalhar na Central Globo de Jornalismo e de Carla Giffoni, que foi contratada pela Veja de São Paulo. Para terminar, eu explicava ao leitor o seguinte: Tudo como antes no quartel de Abrantes. É primeiro de abril e tudo que você leu... E assim terminava.
Algumas pessoas ligaram indignadas porque elas tinham a certeza que a reunião que aconteceu numa fazenda da prefeita nunca teria sido realizada, já que no final de semana quando aconteceu o suposto encontro, ela estava participando de outro evento e a pessoa era testemunha do ocorrido. Outros leitores se mostraram temerosos. O ex-prefeito da cidade, inimigo político da então prefeita, veio me perguntar à boca pequena se era realmente verdade que o BNDES iria investir aquela fortuna na cidade para a retirada do pátio de manobras. Se isso acontecesse, seus projetos políticos naufragariam. Eu e o meu editor fomos parados na rua em diversas ocasiões para recebermos parabéns da nossa suposta contratação. Outros ligaram elogiando, dizendo que o texto era muito bom e bem sacado. Enfim, a controvérsia foi criada e quem cria a fama, deita na cama.
Esse foi um dos textos que mais tive prazer em escrever, como disse. Ria muito na hora que estava redigindo. Fiz inclusive uma pesquisa para ver como o petróleo poderia se formar, e disse na matéria que o indício de petróleo ocorria porque os cientistas tinham encontrado ossos de dinossauros na cidade.
A força da palavra impressa é muito grande porque quando alguém fala, dá-se a inflexão que se quiser, mas quando o outro é que lê, ele que impõe sua inflexão, e este leitor pode não ter acordado de bom humor porque sua mulher dormiu de calça jeans.
É um risco que todo escritor corre. Eu e Veríssimo temos alguma coisa em comum (nem que seja o branco do olho). Chique, né?!

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