terça-feira, 10 de junho de 2008

A Solidão que buscava o Amor (Capítulo 2)

Solidão ficou encantada por aquele ser que lhe tocava tão profundamente o coração. Notava todo seu aspecto, desde os cabelos loiros que pareciam que o sol havia ido visitá-lo logo pela manhã, até os olhos de um cinza azulado que a fizera ver o mundo numa nova dimensão. O sorriso do rapaz era largo e branco como as nuvens. Solidão demonstrou tanto encantamento que uma colega, notando seu entusiasmo, falou-lhe baixinho: “Eu conheço ele...chama-se Amor”.
Solidão coloriu-se de um vermelho rubro ao sentir que sua colega havia notado o entusiasmo. Mas também uma alegria enorme encheu sua alma ao saber que aquele, cuja presença inspirou tanta quentura em seu coração, era o Amor e pela primeira vez na vida, de sua longa e solitária existência, Solidão sorriu. Um sorriso largo, profundo, envolvente e cheio de luz que iluminou o ambiente e todos a notaram e a olharam admirados.
Mas o Amor não estava perto. Solidão teve que se contentar de ficar longe do Amor, sem poder lhe dizer ao menos algumas palavras.
Quando chegou ao trabalho, Solidão procurou a colega e quis saber de todos os detalhes do Amor: como era, onde morava, do que gostava... queria saber de tudo, os menores detalhes e a cada resposta outras indagações surgiam, pois ela nunca tinha encontrado o Amor e agora, maravilhada perante a situação, não sabia o que fazer.
Ao voltar para casa rezou para que o Amor estivesse no ponto de ônibus e assim pudesse se aproximar ... mesmo sem saber o que lhe dizer. “Sei lá...pergunto as horas.... comento sobre o tempo...”, pensava Solidão que queria a companhia do Amor.
Mas de nada adiantou, Solidão não encontrou o Amor... O Amor não veio, foi embora... e isso a entristeceu muito. Mas Solidão não perdeu a esperança e no dia seguinte se arrumou ...colocou a melhor roupa, uma blusa presenteada há séculos, mas que nunca havia usado.... penteou-se e foi em busca do Amor.
Nova decepção...mais uma vez o Amor não veio. Nem sinal do seu cabelo de sol, de seus olhos de céu... nada, e Solidão pesarosamente foi trabalhar. Arrastou-se até a empresa, pois o que ela queria realmente era estar perto do Amor... sentir seus braços em volta do corpo, ouvir sua voz, que ela imaginava rouca...mas o Amor mais uma vez não apareceu.
E assim foram todos os dias seguintes. Solidão se arrumava, colocava a melhor roupa, rezava, ficava cheia de expectativas e esperança ... e mais uma vez o Amor não aparecia.
Teve até uma vez que ela olhou e pareceu avistá-lo; ledo engano...não era... o Amor deveria estar longe...bem longe dali e ela, que sonhava tanto com sua presença, havia tido apenas uma visão ilusória do Amor.
O tempo passou... os dias foram se somando e até hoje Solidão ainda procura o Amor...sem nunca mais tê-lo encontrado. Mas Solidão não perdeu a esperança, todo dia passa pelo ponto de ônibus, olha se o Amor está presente e ela já se prometeu: quando isso acontecer, ela descerá e se entregará para o Amor de corpo e alma.

Um comentário:

LEONARDO DE MORAES disse...

Olá, ó eu aqui de novo. Isso é a maior mostra que gostei, Carla. Achei que esse texto poderia ter ido um pouquinho mais longe, talvez misturando elementos mitológicos. Quando falamos em "solidão" e "amor" encarnados, dá uma sensação de arquétipos fundamentais, sabe? Porque não buscar na mitologia greco-romana, hindu, algo que enriqueça tua narrativa? Ainda que você trabalhe a história no mundo real, falando de pontos de ônibus e coisa que o valha. Outra coisa: achei que o final não levou a nenhuma surpresa, não chegou a criar um climax ou emoção... Você contou, contou, e a historia parece ter voltado para o ponto de partida. Será que isso não frustra um pouco o leitor? Abraços! Léo