terça-feira, 4 de março de 2008

Nasci...(Capítulo 1)

Nasci. Contradizendo todas as previsões dos médicos que examinaram minha mãe, nasci numa ensolaradamente quente tarde de 4 de fevereiro de 19.... (Ok, admito: como qualquer mulher não falo a minha idade). O médico tinha garantido à minha genitora que ela não poderia ter filhos devido a uma operação que fizera logo depois de casada. Mamãe sentia dores terríveis e em menos de 24h foi operada duas vezes. Como não foi encontrado em seu aparelho reprodutor nada que desse uma pista do porquê das dores, o médico decidiu cortar as trompas. Deixou apenas um pedacinho. Pedaço que, segundo ele, não lhe possibilitaria ovular e gerar uma criança. As chances eram tão mínimas, que ele foi categórico:

- Não poderá ter filhos.

Minha mãe contou que tal situação gerou muita dor a ela e à família inteira. Afinal, que recém-casada não gostaria de ter um bebê para acalentar nos braços?
Mas aí os dias foram passando, somando-se, transformando-se em anos, até que – passada uma década – um dia ela foi pegar um botijão de gás e sentiu umas dores fortes. O médico da família estava participando de um simpósio internacional e meu pai levou um outro lá em casa para examiná-la. Mamãe contava que o médico, apesar de formado, parecia estudante de medicina, cabelos negros como “a asa da graúna” e molhados como se tivesse acabado de sair do banho. Seu nome era doutor Eros e mais tarde ele se transformaria num dos melhores médicos da Região do Sul Fluminense. Ele a examinou e foi taxativo:

- Está grávida.

Minha mãe calmamente retrucou, sem acreditar por um só momento:

- Ah, é? Está bem.

Papai levou o médico para o centro da cidade de táxi – sim, nenhum dos dois tinha carro naquela época – e ao voltar para casa teve que ouvir o maior sermão da mulher.

- Onde já se viu, Gil (Gilberto era seu nome)?! Trazer um estudante de medicina para me examinar! Você sabe que não posso gerar filho!

Meu pai enfiou a viola no saco e concordou com ela. Afinal, durante todo aquele tempo eles tinham a certeza absoluta de que não poderiam gerar uma criança.

Um comentário:

Gabriela Costa disse...

Oba! Acho que serei a primeira a postar! Carlinha, acompanho um pouco da sua caminhada e quanto me orgulho de fazer parte dela. As palavras ganham vida na sua escrita, você tem a sensibilidade de transformar tudo em poesia com uma pitada de humor. Tudo no ponto certo! Vá em frente, não desista nunca! Navegar é preciso!